Menopausa e Compulsão Alimentar: Como Vencer os Desejos Fora de Controle e Retomar Sua Saúde

A menopausa é um momento de grandes transformações para o corpo e para a mente. Como médica, sei o quanto os sintomas dessa fase podem ser desafiadores, mas também entendo muito bem, por experiência pessoal, o quanto ela pode impactar nossas emoções, nossos hábitos e, claro, nossa relação com a alimentação. A questão alimentar é bem complexa, pois notamos nítidamente como nosso metabolismo lentifica e como é difícil manter bons hábitos alimentares. Nossa, eu chego a fica ansiosa pelo jantar, acredita? E o que vem na minha cabeça, salada? Não! Vem uma vontade enorme de comer risoto. Nunca fuitão fascinada por risotos como agora rsrsrs.

Quem já passou ou está passando pela menopausa sabe que um dos problemas mais comuns e angustiantes é a compulsão alimentar. Sentir que o controle sobre o apetite escapa de nossas mãos é algo frustrante, principalmente quando os desejos por alimentos mais calóricos e açucarados (“risotados”) parecem aumentar sem explicação.

Neste artigo, quero compartilhar com você não apenas o meu olhar como médica, mas também minha vivência pessoal com os desafios alimentares na menopausa. Vamos entender o que acontece no nosso corpo, como os hormônios influenciam esses desejos e, mais importante, como podemos enfrentar a compulsão alimentar de maneira eficaz e saudável.

O Que é a Compulsão Alimentar e Por Que Ela Aumenta na Menopausa?

A compulsão alimentar é um comportamento caracterizado pelo consumo excessivo de alimentos, mesmo quando não estamos com fome, muitas vezes com um senso de perda de controle. Ela está associada a uma série de fatores emocionais e biológicos, e na menopausa, as mudanças hormonais desempenham um papel significativo no aumento desse desejo por alimentos.

Como é comum essa queixa em meu consultório. O que me preocupa muito é que muitas mulheres já chegam com auto-medicação (a canetinha para emagrecer, sabe qual?). Então, mulheres desesperadas com o ganho de peso e o descontrole com o impulso de comer já se medicando sem nenhuma avaliação médica. Não faça isso!

Durante a menopausa, ocorre uma queda nos níveis de estrogênio, um hormônio fundamental para o equilíbrio emocional e a regulação do apetite. O estrogênio, entre outras funções, ajuda a controlar a liberação de neurotransmissores como a serotonina, que está diretamente ligada ao bem-estar e ao controle do apetite. Com a redução do estrogênio, muitos de nós começamos a perceber uma alteração no apetite, com uma tendência maior a procurar alimentos que proporcionem prazer imediato, como os ricos em açúcar e gordura.

Além disso, a menopausa é um período de mudanças psicológicas e emocionais. O estresse, as ondas de calor, as mudanças de humor e a ansiedade podem se tornar gatilhos para episódios de compulsão alimentar. Muitas vezes, comemos para lidar com as emoções ou simplesmente porque o nosso corpo pede por um alívio imediato. Essa fase exige muito autocinhecimento também, pois temos mais oscilações de humor. O risco de depressão é maior do que antes do climatério. Uma fase onde muitas mulheres acreditam que é só “ladeira à baixo” e NÃO é! Pode acreditar em mim. Podemos sim nos adaptar muito bem (aos poucos, mas ocnseguimos sim nos tornarmos novamente nossa melhor versão).

Como a Menopausa Afeta Nossos Desejos Alimentares

Eu mesma, como médica e mulher na menopausa, já percebi como as mudanças hormonais podem afetar minha relação com a comida. Os flutuações hormonais, especialmente na redução de estrogênio, não só alteram o apetite, mas também interferem em nossos hábitos alimentares e emoções. Essa fase pode gerar um descontrole nas quantidades de comida consumidas, especialmente quando estamos mais vulneráveis emocionalmente.

Os principais motivos para o aumento da compulsão alimentar na menopausa incluem:

Desequilíbrio Hormonal: Como mencionei, a queda do estrogênio e de outros hormônios, como a progesterona, pode aumentar o desejo por alimentos com alto teor calórico. Isso ocorre porque esses hormônios têm impacto direto na regulação do apetite e na resposta ao prazer.

Alterações Emocionais: A menopausa pode ser um período de aumento da ansiedade, da depressão e da irritabilidade. Muitas vezes, as mulheres recorrem à comida como forma de conforto para lidar com esses sentimentos. O desejo por doces, por exemplo, pode ser uma tentativa inconsciente de aumentar os níveis de serotonina e melhorar o humor.

Insônia e Fadiga: Outro sintoma comum da menopausa é a dificuldade para dormir, seja por causa das ondas de calor ou da insônia. O cansaço e a privação do sono podem aumentar a compulsão alimentar, pois o corpo tenta “compensar” com alimentos que proporcionem energia rápida, geralmente açúcares e carboidratos simples. Como já cietei em outras postagens, esse sintoma foi o primeiro que apareceu para mim (insônia). Nossa, cheguei a varar noites sem piscar os olhos, de tanta insônia.

Mudanças no Metabolismo: A diminuição da taxa metabólica é uma realidade para muitas mulheres após a menopausa. Mesmo com o aumento do apetite, o corpo passa a queimar calorias de maneira mais lenta, o que pode levar ao ganho de peso e ao sentimento de frustração. Vai se preparando, amiga, pois o nosso “corpitcho” muda, mas com a reeducação alimentar e musculação melhora muito, mas muito mesmo. Eu já recuperei bem minha passa muscular e isso ajudou bastante a acelerar o metabolismo.

    A Psicologia Por Trás da Compulsão Alimentar na Menopausa

    Embora as mudanças hormonais desempenhem um papel importante na compulsão alimentar, não podemos ignorar o impacto psicológico. Como mencionei, muitas vezes, recorremos à comida para lidar com emoções difíceis. Durante a menopausa, essas emoções podem ser intensificadas pela instabilidade hormonal, tornando os episódios de compulsão mais frequentes.

    O estresse, as preocupações com o envelhecimento, as alterações na vida familiar e profissional, e até a sensação de perda de controle sobre o próprio corpo podem contribuir para o aumento do apetite por alimentos reconfortantes. Muitas mulheres, assim como eu, acabam comendo mais por ansiedade ou para preencher um vazio emocional, o que leva a um ciclo vicioso difícil de quebrar.

    Busque ajuda profissional. Eu estou aqui se precisar 🙂 (sou psiquiatra). Mais informações de clique em “Aqui“.

    Estratégias para Controlar a Compulsão Alimentar na Menopausa

    Agora que entendemos os fatores que contribuem para a compulsão alimentar na menopausa, é hora de pensar em como podemos lidar com isso de maneira saudável e eficaz. Aqui estão algumas estratégias que tenho aplicado em minha própria vida e que recomendo para minhas pacientes.

    Reequilibre sua Alimentação: A base de qualquer plano para controlar a compulsão alimentar é uma alimentação equilibrada e nutritiva. Isso inclui consumir alimentos ricos em fibras, proteínas magras, gorduras saudáveis e vegetais. Esses alimentos ajudam a manter o apetite controlado e fornecem nutrientes essenciais para o corpo. Evitar dietas restritivas e focar em uma alimentação balanceada pode ajudar a estabilizar os níveis de açúcar no sangue e reduzir os desejos por doces.

    Coma com Consciência (Mindful Eating): Como médica e mulher, sei que a prática de comer de forma consciente pode ter um grande impacto na redução da compulsão alimentar. Ao invés de comer por impulso, procure saborear cada refeição, prestando atenção nos sabores e na sensação de saciedade. Isso ajuda a diminuir os episódios de comer em excesso.

    Exercícios Físicos: A atividade física regular não apenas ajuda a manter o peso, mas também libera endorfinas, que são hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar. Além disso, o exercício pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, que são grandes gatilhos da compulsão alimentar.

    Controle do Estresse: Como mencionei, muitas vezes a comida é uma forma de lidar com emoções difíceis. Buscar alternativas para o controle do estresse, como meditação, ioga, técnicas de respiração e atividades relaxantes, pode ser fundamental para evitar a compulsão alimentar.

    Durma Bem: A qualidade do sono afeta diretamente os nossos hábitos alimentares. Dormir o suficiente e de maneira reparadora ajuda a equilibrar os níveis de hormônios relacionados ao apetite, como a grelina e a leptina, que controlam a fome e a saciedade.

    Busque Apoio Profissional: Em alguns casos, pode ser necessário procurar um nutricionista, endocrinologista ou psicólogo para ajudar a controlar os episódios de compulsão alimentar. O apoio profissional pode ajudar a identificar os gatilhos emocionais e físicos que estão por trás da compulsão, oferecendo soluções mais personalizadas.

    Tratamento Medicamentoso: Há vários medicamentos que ajudam no quadro de depressão. Antes de iniciar com uma medicação, é preciso fazer uma avaliação criteriosa, pois eu investigo se há algum outro quadro concomitante,s como a depressão, por exemplo. Não concordo entrar logo de cara com remédios fortes sem antes a paciente fazer uma mudança no estilo de vida. O remédio é parte da estratégia para sair desse quadro e sozinho ele não vai funcionar. CUIDADO ao tomar anorexígenos sem orientação, pois realmente você pode perder muito peso, mas pode ganar todo (e mais um pouco) logo em seguida e trazer vários efeitos nocisos para o seu organismo.

      Como médica e mulher que também vive os desafios da menopausa, sei o quanto a compulsão alimentar pode ser um obstáculo para o bem-estar físico e emocional. No entanto, com compreensão e estratégias adequadas, podemos controlar esses impulsos e adotar hábitos alimentares mais saudáveis.

      Lembre-se, a menopausa é uma fase de transição, e a maneira como cuidamos de nós mesmas durante esse período pode fazer toda a diferença. Se você está lutando contra a compulsão alimentar, saiba que não está sozinha. Com paciência, persistência e as abordagens certas, podemos passar por essa fase de maneira equilibrada e saudável.

      Eu entendo os desafios da menopausa. Estamos juntas nessa! Mas também acredito firmemente que, com o apoio certo e escolhas conscientes, é possível encontrar equilíbrio e bem-estar, mesmo nos momentos de maiores dificuldades.

      Espero que tenha gostado desse texto.

      Com carinho,

      Mariza Matheus

      Médica Psiquiatra

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