Menopausa e Saúde Mental: Como Lidar com Ansiedade, Depressão e Mudanças de Humor
Como médica psiquiatra, recebo frequentemente mulheres que relatam sentir-se emocionalmente instáveis durante a menopausa. Elas chegam ao consultório descrevendo sintomas como ansiedade, tristeza profunda e mudanças bruscas de humor, muitas vezes sem entenderem a relação desses sintomas com as alterações hormonais que estão vivenciando.
É muito comum uma paciente vir ao consultório com queixas depressivas e nem imaginar que tais sintomas podem estar relacionados ao climatério ou menopausa. Há influências hormonais, mas essa fase também impacta muito na autoestima da mulher, pois além dos sintomas, há mudanças no corpo e humor e nem todas as mulheres entendem essa fase. Por outro lado, a falta de apoio e entendimento das pessoas próximas tamém impacta no quadro clínico da paciente.
Este texto é um guia para ajudar você a entender o impacto da menopausa na saúde mental e explorar estratégias para lidar com esses desafios, promovendo qualidade de vida e bem-estar emocional. Lembrando, eu também estou passando pelo mesmo que você. Estamos juntas!
Como a Menopausa Afeta a Saúde Mental?
A menopausa é uma transição biológica natural que marca o fim do ciclo reprodutivo da mulher. No entanto, para muitas mulheres, essa fase também traz mudanças emocionais que podem ser bastante desafiadoras (e muito!). Essas alterações são frequentemente desencadeadas pelo declínio nos níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que desempenham papéis importantes na regulação do humor.
Impactos Comuns na Saúde Mental
Ansiedade: A flutuação hormonal pode intensificar a sensação de preocupação e agitação. Um período com preocupações constantes e uma inquietude interna que dificilmente a paciente associa à questões hormonais.
Depressão: Mulheres com histórico de depressão ou transtornos de humor podem estar mais vulneráveis durante essa fase. Isso não é regra, mas posso dizer que muitas pacientes que estão com depressão nessa fase, já trazem um histórico anterior de alteração de humor. Outra observação que fiz, é em relação àquelas mulheres que sempre tiveram uma TPM intensa, com irritabilidade predominante.
Irritabilidade: Situações cotidianas que antes eram simples de lidar podem parecer imensamente desafiadoras, desencadeando reações desproporcionais. Essa irritabilidade não se assemelha à irritação “comum” e reativa diante de contratempos específicos; trata-se de uma irritabilidade persistente e difusa, que muitas vezes surge sem uma causa aparente. Esse estado pode ser desgastante, tanto para quem o experimenta quanto para aqueles ao redor, exigindo atenção especial para identificar suas origens e buscar formas de amenizá-lo.
Fadiga emocional: A combinação de insônia, ondas de calor e estresse pode resultar em um estado de esgotamento mental, frequentemente descrito como uma “estafa mental”. Esse quadro pode manifestar-se como cansaço crônico, apatia e uma sensação constante de falta de energia. Essas condições frequentemente contribuem para o aumento da procrastinação, criando um ciclo em que tarefas simples parecem exigentes demais para serem realizadas. Reconhecer esses sinais é fundamental para buscar estratégias de enfrentamento e restaurar o equilíbrio emocional e físico.
Baixa Autoestima: Com a alterações hormonal, há também mudanças físicas, como ganho de pesa (lentificação metabólica), aumento da cintura e/ou quadril, mudança da textura da pele, etc. Tais mudanças não são simples, pois mexe com a nossa autoimagem e isso impacta muito em como nos enxergamos. Eu posso falar que ganhei peso, mesmo comendo mesmo. Demorei a entender que meu corpo funciona de forma diferente e que a necessidade de uma reeducação alimentar e exercícios se tornou prioridade. Vejo tabém mudança na minha pele, com aumento da flacidez. Tudo isso parece “terrível”, mas com o tempo vamos entendendo que é um processo, uma nova fase e vamos nos aceitando e fazendo as mudanças necessários para que possamos ser nossa melhor versão nessa fase da vida.
Cognição: Cognitivamente, percebi mudanças significativas, seja pela redução de estrogênio ou pela piora na qualidade do sono. Minha memória já não é como antes, e lapsos mentais se tornaram mais frequentes. Como médica, sempre tive o hábito de lembrar de detalhes importantes das consultas com meus pacientes, mas nesta fase, precisei me adaptar. Hoje, utilizo aplicativos que me ajudam a organizar e delegar tarefas, além de registrar informações no prontuário de forma mais detalhada. No início, essa mudança foi desafiadora, mas aprendi a “reaprender” e criar novas estratégias. Estou aqui, trabalhando, cuidando dos meus pacientes e compartilhando minhas experiências com vocês. É importante destacar que esses ajustes são possíveis e podem minimizar os desconfortos dessa fase. Porém, se a perda de memória se tornar intensa, é essencial buscar ajuda profissional. Um neurologista pode descartar outras condições, enquanto um ginecologista avaliará se a reposição hormonal é adequada ao seu caso. Afinal, a menopausa é um momento de adaptação, mas também de renovação.
Fatores de Risco para Alterações Psicológicas na Menopausa
Nem todas as mulheres experimentam problemas emocionais durante a menopausa, mas alguns fatores podem aumentar a vulnerabilidade:
Histórico de Transtornos Mentais: Mulheres com ansiedade, depressão ou transtorno bipolar têm maior probabilidade de enfrentar desafios emocionais. Também percebo que mulheres com intensa TPM também apresentam risco maior.
Estresse Psicológico: Mudanças na vida, como filhos saindo de casa (Síndrome do ninho vazio), netos ou responsabilidades profissionais/financeiras, podem coincidir com essa fase.
Genética: Há evidências de que a predisposição genética pode influenciar como as mulheres lidam com o impacto hormonal.
Isolamento Social: Falta de suporte emocional de amigos e familiares pode agravar os sintomas. Muitas pessoas não compreendem essa fase e acabam se distanciando ou “minimiazando” o que se passa com a mulher nessa fase. Ter uma rede de apoio e acolhimento faz toda diferença.
Ansiedade na Menopausa: Como Identificar e Lidar
Nossa, como esse sintoma é comum! A ansiedade pode se apresentar de diversas formas, desde uma preocupação constante e difícil de controlar até uma sensação persistente de perigo iminente, mesmo sem uma ameaça real. Em muitos casos, ela também pode se manifestar fisicamente, com sintomas como falta de ar, palpitações, tensão muscular e sudorese excessiva. Reconhecer esses sinais é essencial para agir de forma proativa e implementar estratégias eficazes de manejo que promovam o equilíbrio emocional e o bem-estar geral.
Dicas para Gerenciar a Ansiedade
Respiração Profunda: Exercícios de respiração ajudam a acalmar o sistema nervoso.
Atividade Física: Práticas como yoga e caminhadas são excelentes para reduzir os níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. O mais importante é escolher uma atividade que combine com o seu estilo e traga prazer. No meu caso, prefiro musculação ou caminhada, sempre acompanhada de um bom fone de ouvido tocando rock clássico – uma trilha sonora que adoro e que torna o momento ainda mais revigorante!
Mindfulness: A meditação guiada pode ajudar a focar no presente e reduzir pensamentos ansiosos. Adoro meditar e, na minha prática, ajuda muito. O Mindfilness nos ajuda a nos conectarmos com o presente, minimizando as preocupações constantes.
Suporte Profissional: Em casos severos, a psicoterapia cognitivo-comportamental e, se necessário, medicamentos prescritos por um profissional psiquiatra, podem ser eficazes. Quando uma paciente chega ao meu consultório, ela já apresenta um quadro intenso de ansiedade, já com prejuízo em diversas áreas da vida. Se as pessoas tivessem mais informações sobre esse tema, não deixariam o quadro ficar tão intenso para só então procurar um médico.
Depressão e Menopausa: É Mais Comum do Que Parece
Clássica! A cada 10 mulheres que atendo nessa fase, 8 estão com depressão. A menopausa não causa depressão diretamente, mas as alterações hormonais podem contribuir para episódios depressivos, especialmente em mulheres predispostas.
Sinais de Alerta para Depressão (tais sintomas devem persistir por mais de 2 semanas)
- Sentimentos persistentes de tristeza ou desesperança.
- Perda de interesse em atividades antes prazerosas.
- Fadiga extrema, mesmo após períodos de descanso.
- Pensamentos negativos sobre si mesma ou sobre o futuro.
- Pensamentos de morte.
- Procrastinação.
- Dificuldade de concentração.
- Sentimento de menos valia.
- Oscilações frequentes de humor.
- Alteração no apetite ou sono.
Como Gerenciar a Depressão
- Manutenção de uma Rotina: Ter horários regulares para acordar, comer e dormir pode ajudar a regular o humor.
- Exercícios Físicos: A atividade física libera endorfinas, que promovem bem-estar.
- Terapia Psiquiátrica: Em muitos casos, antidepressivos podem ser recomendados. É importante lembrar que esses medicamentos devem ser prescritos e acompanhados por um profissional. Não tome nenhum medicamento se não for prescrito pelo médico, mesmo se uma amiga te oferecer (ou uma familiar). Ressalto isso, pois é comum chegar uma paciente aqui no consultório já em usso de medicação, com efeitos colaterais e que foi dada por uma amiga ou familiar.
Mudanças de Humor: Oscilando Entre Felicidade e Irritação
As flutuações emocionais estão entre os sintomas mais desafiadores da menopausa, sendo uma fonte constante de frustração. É comum sentir-se equilibrada e bem-humorada em um momento, apenas para ser tomada por irritação ou tristeza pouco tempo depois. Essa montanha-russa emocional pode ser desconcertante, tanto para quem está passando por ela quanto para aqueles ao redor, exigindo paciência, compreensão e estratégias para lidar com essas mudanças de forma saudável.
Estratégias para Gerenciar Oscilações de Humor
- Alimentação Balanceada: Comer alimentos ricos em triptofano (como banana e nozes) pode ajudar a estabilizar o humor.
- Sono Regular: Privação de sono pode agravar as mudanças de humor. Criar uma rotina de sono pode fazer diferença.
- Práticas Relaxantes: Momentos de autocuidado, como ler um livro ou ouvir música, são essenciais.
As flutuações emocionais estão entre os sintomas mais desafiadores e frustrantes que as mulheres podem enfrentar durante a menopausa. É comum experimentar uma sensação de bem-estar em um momento e, logo em seguida, ser tomada por irritação, tristeza ou até mesmo uma sensação de vazio, sem uma causa aparente. Essa montanha-russa emocional é causada principalmente pelas alterações nos níveis hormonais, especialmente do estrogênio, que influencia neurotransmissores ligados ao humor, como a serotonina.
Para quem vive essas mudanças, o impacto pode ser significativo, afetando relacionamentos pessoais, produtividade no trabalho e a capacidade de lidar com desafios do dia a dia. Para aqueles ao redor, como familiares, amigos e colegas, pode ser difícil compreender o que está acontecendo, especialmente porque as reações podem parecer desproporcionais ou imprevisíveis.
É importante reconhecer que essas mudanças emocionais são uma resposta natural do corpo a essa transição e não um sinal de “fraqueza” ou falta de controle. Estratégias como a prática de exercícios físicos, uma alimentação equilibrada, técnicas de mindfulness e, em alguns casos, acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, podem ajudar a suavizar essas oscilações e promover uma melhor qualidade de vida. Além disso, buscar apoio de um ginecologista para avaliar opções como a terapia de reposição hormonal também pode ser uma alternativa para aliviar esses sintomas mais intensos.
Hormônios e Saúde Mental: Qual é a Relação?
O papel dos hormônios na saúde mental é crucial e não pode ser subestimado, especialmente durante a menopausa. Os hormônios, em particular o estrogênio, têm uma influência significativa na regulação de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que são fundamentais para o controle do humor, sensação de bem-estar e prazer. Durante a transição da menopausa, há uma diminuição drástica na produção de estrogênio, o que pode resultar em um desequilíbrio químico no cérebro. Isso, por sua vez, pode causar alterações no humor, como sentimentos de tristeza, irritabilidade e até sintomas depressivos.
Além do impacto no humor, a redução do estrogênio também afeta outros aspectos da saúde mental, como a memória e a concentração. Muitas mulheres relatam sentir-se mais esquecidas ou distraídas durante a menopausa, o que pode contribuir para a ansiedade e o estresse. Essa mudança hormonal pode, portanto, criar uma sensação de “nevoeiro mental”, dificultando a capacidade de lidar com as demandas diárias.
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) Pode Ajudar?
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é uma opção eficaz para muitas mulheres que enfrentam sintomas severos da menopausa, especialmente aqueles que afetam diretamente a saúde mental. A TRH visa repor os níveis de estrogênio e, em alguns casos, progesterona, para ajudar a restaurar o equilíbrio hormonal e aliviar sintomas como ondas de calor, suores noturnos e, claro, os distúrbios de humor associados à menopausa.
Estudos demonstram que a reposição hormonal pode melhorar os níveis de serotonina no cérebro, o que, por sua vez, ajuda a reduzir a ansiedade e a depressão. Para muitas mulheres, a TRH pode ser uma solução eficaz para restabelecer o equilíbrio emocional e promover o bem-estar psicológico. No entanto, a decisão de iniciar a reposição hormonal deve ser feita com cautela e sempre com a orientação de um ginecologista ou endocrinologista. Cada caso é único, e os benefícios devem ser cuidadosamente pesados contra os riscos potenciais, como o aumento do risco de certos tipos de câncer ou problemas cardiovasculares, especialmente em mulheres mais velhas ou com histórico de condições específicas.
É essencial discutir com um médico qual a forma de TRH mais indicada (oral, transdérmica, entre outras) e o tempo de duração do tratamento. Em muitos casos, uma abordagem personalizada, que combine a reposição hormonal com terapias psicológicas ou psiquiátricas, pode ser a melhor forma de lidar com os sintomas mentais da menopausa.
Além disso, para as mulheres que não podem ou preferem não fazer uso da TRH, existem outras alternativas, como tratamentos não hormonais, terapias comportamentais e medicamentos antidepressivos, que podem ser úteis para controlar sintomas de ansiedade e depressão. Em qualquer cenário, o acompanhamento médico é fundamental para garantir que a saúde mental seja tratada de maneira eficaz e segura durante esta fase desafiadora da vida.
Como Eu Ajudo Minhas Pacientes a Superar Esses Desafios?
No meu consultório, gosto de adotar uma abordagem integrada, considerando tanto a saúde mental quanto física. Algumas estratégias que recomendo incluem:
Avaliação Personalizada: Cada mulher é única. Eu sempre investigo se há condições pré-existentes que possam estar contribuindo para os sintomas.
Terapias Complementares: Além da medicação, sugiro terapias como meditação, acupuntura e técnicas de relaxamento.
Educação e Informação: Explicar às pacientes o que está acontecendo com o corpo delas é uma parte essencial do processo. Entender é o primeiro passo para enfrentar.
Encaminhamento Multidisciplinar: Muitas vezes, trabalho em parceria com ginecologistas e nutricionistas para oferecer um suporte mais completo.
Como Promover o Bem-Estar Mental na Menopausa
Além de gerenciar os sintomas da menopausa, existem diversas ações que você pode adotar para fortalecer sua saúde mental de maneira geral. Cuidar da mente de forma integral é essencial para enfrentar essa fase de forma equilibrada e positiva. Isso inclui a prática regular de atividades físicas, que liberam endorfinas e promovem a sensação de bem-estar, assim como técnicas de relaxamento, como meditação e mindfulness, que ajudam a reduzir o estresse e melhoram a clareza mental. Além disso, manter uma alimentação equilibrada, com nutrientes essenciais para o funcionamento cerebral, e garantir uma boa qualidade de sono, são fundamentais para preservar a saúde mental. Buscar apoio social também é crucial — conversar com outras mulheres que estão passando pela mesma fase ou com profissionais especializados pode fornecer não só alívio emocional, mas também uma troca valiosa de experiências. Essas ações combinadas formam uma base sólida para manter a saúde mental robusta e resiliente, permitindo que você lide com as mudanças da menopausa de maneira mais tranquila e consciente.
- Construa uma Rede de Apoio: Compartilhe suas experiências com amigas ou grupos de suporte. Saber que você não está sozinha pode ser reconfortante.
- Dedique Tempo ao Lazer: Pratique hobbies e atividades que tragam alegria.
- Cuide do Corpo: Um corpo saudável sustenta uma mente equilibrada.
Perceba que você está em uma nova fase e a vida continua e pode SIM ser uma fase muito boa. Não encare essa fase como o “começo do fim”. Seja sua melhor versão! Combinado?
A Menopausa É Uma Nova Fase, Não o Fim
A menopausa pode, sem dúvida, ser uma fase desafiadora, mas também oferece uma valiosa oportunidade para redirecionar o foco para o cuidado consigo mesma. Muitas mulheres enfrentam sintomas como ansiedade, depressão e flutuações de humor durante esse período, e é fundamental compreender que esses desafios são naturais, mas não precisam ser enfrentados sozinhas. Há uma ampla gama de recursos, tratamentos e abordagens terapêuticas disponíveis para ajudar a aliviar esses sintomas e promover o bem-estar emocional. Como médica psiquiatra, tenho a oportunidade de ver todos os dias como o suporte adequado pode transformar a vida das mulheres nessa fase de transição.
É importante lembrar que buscar ajuda não é um sinal de fraqueza, mas sim um ato de força e autocuidado. Reconhecer a necessidade de apoio, seja através de acompanhamento psicológico, psiquiátrico ou até mesmo com a orientação de um ginecologista, é uma atitude poderosa que pode melhorar significativamente a qualidade de vida. A menopausa não precisa ser enfrentada como um obstáculo, mas como uma oportunidade de se reconectar com seu corpo e sua saúde mental de maneira mais profunda e consciente.
Se este artigo foi útil para você, não hesite em compartilhá-lo com outras mulheres que possam estar vivenciando os mesmos desafios. O apoio mútuo e a troca de informações são essenciais para que todas possamos passar por essa fase com mais compreensão e cuidado.
Abraço,
Mariza Matheus (médica e mulher chegando na menopausa) 🙂